ABMS 75 anos: Willy Lacerda liderou pesquisas e soluções para estabilizar encostas no Rio de Janeiro - ABMS
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ABMS 75 anos: Willy Lacerda liderou pesquisas e soluções para estabilizar encostas no Rio de Janeiro

02/07/2025

Presidente da ABMS entre 1996 e 2000, Willy Alvarenga Lacerda é uma figura relevante na trajetória da Associação. Ele liderou os trabalhos de estabilização de encostas no Rio de Janeiro levados à frente pela Geo-Rio depois das enchentes e deslizamentos de 1966, entre tantos outros projetos espalhados pelo país.

Os primeiros indícios da carreira que ele iria assumir no futuro surgiriam ainda na infância. A leitura do livro “O Poço do Visconde”, de Monteiro Lobato, foi inspiradora. Outra experiência precoce foram as viagens de carro com a família pelas estradas lamacentas do Brasil. O resultado foi que Willy passou a sonhar em conectar por estradas asfaltadas todas as capitais do país.

Conheça mais dessa história contada por Lacerda neste vídeo gravado especialmente para os 75 anos da ABMS.

Influenciado por seus irmãos engenheiros, ingressou na Escola Nacional de Engenharia (UFRJ) em 1954. No terceiro ano, as aulas de Fernando Barata e a orientação de Costa Nunes o conquistaram para a geotecnia.

Como estagiário na Tecnosolo, sob comando de Costa Nunes, Lacerda participou do desenvolvimento da cortina atirantada e do primeiro teste de tração de tirantes, experiências que o sensibilizaram para a área. “Descobri que havia muito mais a explorar na geotecnia”, conta.

Na Tecnosolo, Lacerda adquiriu experiência viajando pelo Brasil. Em 1966, foi um dos líderes da equipe que avaliou os graves deslizamentos havidos no Rio após chuvas torrenciais, contribuindo na sequência para a criação da Geo-Rio. Realizou mestrado e doutorado em Berkeley (1967-1971), estudando relaxação de tensões em solos com James Mitchell. De volta, ingressou na COPPE/UFRJ como professor em tempo integral. “Berkeley me deu ferramentas para entender o comportamento das encostas”, disse.

Envolvimento com a ABMS

Lacerda se associou à ABMS em 1955, a convite de Costa Nunes, acumulando hoje quase 70 anos como membro. Sua trajetória na associação começou com a criação da revista Solos e Rochas em 1978, idealizada com Dirceu Veloso e Francisco Lopes na COPPE. “O professor Norbert Morgenstern sugeriu uma revista brasileira sobre solos tropicais, e assim nasceu a Solos e Rochas”, conta.

Willy Lacerda, Fernando Barata e Mário Brandi Pereira, Belo Horizonte, 1996

Inicialmente pequena, a revista foi transferida para a ABMS em 1980, tornando-se, sob sua gestão, a primeira publicação latino-americana de geotecnia, evoluindo para Soils and Rocks com apoio da Sociedade Portuguesa de Geotecnia (SPG).

Como presidente da ABMS entre 1996 e 2000, Lacerda promoveu avanços significativos. Ele reviveu o Congressos Luso-Brasileiros, iniciados por Costa Nunes e Manuel Rocha, mas interrompidos desde 1981. “Propus retomar o Luso com a SPG. Hoje o congresso ocorre a cada dois anos”. Sua gestão também trouxe eventos internacionais ao Brasil, como o Simpósio Pan-Americano de Escorregamentos, que ocorreu em 1997 juntamente com a COBRAE, e o primeiro Simpósio de Geossintéticos (1999), liderado por Maurício Ehrlich.

Lacerda foi fundamental na organização do Congresso Internacional de Escorregamentos no Brasil em 2004, superando concorrentes como China e Japão. “Fiz um prospecto simples, com um mapa, e conseguimos. Foi um sucesso, com centenas de estrangeiros”, lembra.

Ele também criou o Prêmio Costa Nunes para teses de mestrado, a Comissão Técnica de Investigação de Campo, liderada por Márcio Soares, e a Comissão Técnica de Taludes, fortalecendo a pesquisa e a prática geotécnica.

Em 2000, durante sua gestão, a ABMS completou 50 anos. Lacerda apoiou a publicação de um livro histórico, coordenado por Sussumu Niyama. Segundo ele, Milton Vargas foi fundamental ao articular o financiamento, obtendo apoio de grandes empreiteiras por meio da venda de cotas.

Legado e os 75 Anos da ABMS

Lacerda vê a ABMS como um pilar da geotecnia, conectando academia e prática. “A ABMS produziu conhecimento único sobre solos tropicais, reconhecido mundialmente”, afirma. Ele enfatiza a sua capacidade de unir gerações e impulsionar a inovação. “A convivência com mestres, como tive com Barata e Nunes, é o que motiva os jovens a trilhar o caminho da geotecnia”.

Assista à entrevista:

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