Workshop sobre Desastres Geológico-Geotécnicos recebe geólogos e empresas para discutir áreas de risco - ABMS
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Workshop sobre Desastres Geológico-Geotécnicos recebe geólogos e empresas para discutir áreas de risco

17/05/2022

A pluralidade de visões e a troca de experiências marcaram o Workshop sobre “Desastres Geológico-Geotécnicos: Ações e Soluções para Áreas de Risco”, que aconteceu nos dias 9 e 10/5 no Instituto de Engenharia de São Paulo. Organizado pelo Núcleo São Paulo da ABMS, o evento presencial reuniu especialistas das áreas de geologia, geotecnia, Defesa Civil e representantes do mercado de engenharia para discutir amplamente os conceitos de áreas de risco, o trabalho realizado para prevenir e mitigar desastres e as soluções técnicas disponíveis para contribuir com a melhora desse cenário.

Os pontos de vista da geologiaFábio Reis, presidente da Febrageo, abriu a programação de palestras do dia 9/5 abordando o tema “Desastres geológico-geotécnicos: tipologias e impactos”. Reis apresentou brevemente a dinâmica dos principais processos geológico-geotécnicos que ocorrem no Brasil - como os movimentos gravitacionais de massa, erosão e inundação – e levantou a discussão sobre a importância dos estudos de engenharia tanto na fase de planejamento territorial como na fase de planejamento de empreendimentos.

“Esse é um ponto em que precisa haver melhora no Brasil”, ressalta Reis, que também é professor na Unesp-Rio Claro nas áreas de Geologia e Engenharia Ambiental. “A engenharia tem que se engajar mais na questão política para que a sociedade entenda a importância de um projeto bem elaborado – que tem seu custo, mas que representa de 3% a 5% do total da obra. As viabilidades técnica, econômica, ambiental e social dos empreendimentos deveriam ser discutidos em todos os projetos e estudos de engenharia”. Assista aqui à entrevista concedida por Fábio Reis à ABMS.

Em seguida, o geólogo Marcelo Gramani, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), apresentou o tema “Mapeamento de áreas de risco: prevenção, mitigação e reurbanização”. Dentre os tópicos, Gramani abordou como de fato identificar as áreas que apontam algum tipo de risco considerando não apenas as cidades, mas toda a infraestrutura do país.

Segundo ele, há dois principais critérios que definem as áreas e os graus de risco: probabilidade de acontecer um fenômeno (como escorregamentos, corridas de massa e inundações, por exemplo) e a dimensão do dano que esse acontecimento pode causar. “Essa é a fórmula mais simples: probabilidade x dano”, explica.

A partir do conhecimento aprofundado sobre as áreas, outros elementos são integrados à “fórmula”, como o fator de vulnerabilidade das estruturas (uma moradia, rodovia, linha de transmissão ou barragem, para citar algumas). “A primeira responsabilidade é reconhecer esses fenômenos e mapear essas áreas numa planta ou elaborar outro instrumento que possa ser lido pelas autoridades - porque, de fato, serão as Prefeituras que irão utilizar nossos mapas”, explica o pesquisador, que atua junto à Defesa Civil de São Paulo há 19 anos.

Para Gramani, há bons exemplos de gestão de áreas de risco no Estado de São Paulo. São os casos dos municípios de Santos e de Guarujá. Isso acontece, segundo ele, em razão do fortalecimento das equipes formadas por profissionais diversos.

“Santos e Guarujá têm equipes bastante capacitadas formadas por geólogos, engenheiros, meteorologistas. Então a gestão das áreas de risco tende a ser muito boa, uma vez que essas equipem atuam junto com outros colegas de planejamento para evitar perdas, especialmente as humanas”.

O próximo geólogo a palestrar no Workshop foi Agostinho Tadashi Ogura, diretor da Diretoria de Inovação e Negócios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Em sua apresentação sobre “Tecnologias para gestão de áreas de risco”, Ogura levantou a discussão sobre a aplicação prática de soluções tecnológicas na prevenção e na mitigação do risco nas áreas mais vulneráveis do país. Segundo ele, os atuais problemas tecnológicos relacionados à realidade das áreas de risco no Brasil são, na verdade, muito básicos.

“Falta efetivamente uma melhor infraestrutura habitacional, fundiária, e a preocupação com o ser humano”, disse o palestrante. “Se o ser humano for tratado apenas como número, a gente não chega a uma transformação de sociedade. Fala-se muito em transformação digital e se esquece que existe um passivo social muito grande neste país”.

Para Ogura, a melhora das questões que envolvem as áreas de risco no Brasil virá pela transformação da mentalidade dos agentes envolvidos nessa discussão. “A realidade brasileira ainda é de um país subdesenvolvido”, frisou. “Se não transformarmos isso, colocarmos um padrão mínimo aceitável, tolerável, de qualidade de vida – que seria: pessoas morando bem, em segurança, com devido saneamento básico, em locais com o mínimo de qualidade estrutural –, não adianta falar em transformação digital ou em tecnologias inovadoras”.

A engenharia, segundo Ogura, deve assumir papel de liderança nessa transformação.

“A inovação desse país basicamente passa pelo compromisso efetivo com quem mais precisa - e aí é ‘engenharia na veia’, é geologia de engenharia. É atuação técnica na prática, com coisas que necessitam de solução”, afirmou o geólogo. “E as soluções estão na prateleira. Não precisamos inventar novos materiais, novas técnicas e métodos. Falta o ‘be-a-bá’ da engenharia nos locais de maior vulnerabilidade”.

A participação do mercado

O Workshop sobre Desastres Geológico-Geotécnicas recebeu também a participação das empresas patrocinadoras, que apresentaram soluções de engenharia inovadoras e eficientes para os problemas debatidos no evento.

No primeiro dia de discussões, o engenheiro civil Felipe Gobbi, gerente técnico da empresa Geobrugg Brasil, apresentou o tema “Intervenções de estabilização e proteção de Encostas para mitigação de riscos geotécnicos”, mostrando exemplos práticos de projetos de estabilização de taludes e as soluções da Geobrugg - como os sistemas TECCO® e SPIDER® de estabilização de taludes. “Eles foram feitos para substituir o concreto projetado para solo e rocha grampeada. São sistemas que estabilizam e evitam que o evento ocorra”, explicou Gobbi.

Já o engenheiro Patrick Vieira, diretor de engenharia na PCP Engenharia – Geofísica e Monitoramento, apresentou as “Tecnologia, sensores e instrumentações para estabilidade de riscos geológicos-geotécnicos” oferecidas pela empresa. Segundo o diretor, estruturas de risco precisam de tecnologia e principalmente de pessoas capacitadas e comprometidas com a segurança dessas estruturas. “Nosso trabalho é oferecer também o melhor ‘peopleware’, ou seja, pessoas qualificadas para levantar e lidar com as informações visando sempre a segurança de outras pessoas - sejam as equipes que estão trabalhando na área de risco, sejam as comunidades que habitam o entorno”.

Leia a reportagem completa sobre o segundo dia de discussões do Workshop clicando aqui.

 

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