Comunidade técnica discute saídas para a retomada dos investimentos em infraestrutura
A ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental), a ABMS e o CBDB (Comitê Brasileiro de Barragens) promoveram o workshop "Projetos Estruturantes para a Infraestrutura Brasileira", que ocorreu no dia 22 de novembro em São Paulo. O encontro, cuja organização foi liderada pelo geólogo Flávio Almeida da Silva, teve cerca de 40 participantes e discutiu a situação da infraestrutura brasileira e os investimentos no setor. O workshop é a primeira decorrência prática da Carta Manifesto proposta em setembro deste ano, assinada diversas outras entidades relacionadas à infraestrutura.
Acesse aqui a carta. Na foto à direita, Alessander Kormann, Flávio Almeida da Silva e Adalberto Aurélio Azevedo.
O evento teve início com uma apresentação do engenheiro Tarcísio Barreto Celestino, presidente da ITA (International Tunnelling and Underground Space Association). Para ele, a situação da infraestrutura brasileira é de caos. O país ocupa a 123º posição no ranking do Fórum Econômico Mundial em termos de infraestrutura.
"O engenheiro brasileiro foi rebaixado. Não somos mais vistos como uma classe pensante que pode ajudar o país a se reestruturar", afirmou Celestino. "Precisamos retomar o nosso papel na sociedade e agir para que as próximas gerações tenham um país mais bem preparado". Na foto à esquerda, Tarcísio Barreto Celestino, presidente da ITA.
O presidente da ITA mostrou que a má qualidade do pavimento brasileiro acarreta grandes desperdícios. Cerca 4 milhões de toneladas de soja não chegam ao destino por conta de problemas nas estradas.
"O Brasil tem excelentes profissionais que estão desempregados por conta da falta de investimentos e de planejamento em infraestrutura", lamentou Tarcísio. "E muitos dos que estão no mercado acabam recebendo um salário inferior ao que teriam direito, pois são contratados por empresas estrangeiras que entraram no país e não cumprem a lei brasileira do piso salarial".
O próximo a se apresentar foi o historiador Luiz Felipe de Alencastro, que falou sobre a história da navegação, especialmente na América do Sul, sobre o crescimento populacional atual e a previsão para os próximos anos. Em termos de infraestrutura, Alencastro lembra da precariedade da navegação marítima no Brasil. Diversos trechos que poderiam ser feitos por navegação são realizados pelas estradas, o que eleva muito o preço do transporte no país. Na foto à direita, Luiz Felipe de Alencastro.
Os portos de Manaus e Suape, por exemplo, não se beneficiam dos novos fluxos do Canal do Panamá porque não têm terminal de contêiner. "O caminhão sai de Belém e vem ao Sudeste pela estrada ao invés de andar 500 metros e embarcar", explica. "A navegação resolveria muito a questão do custo do transporte". E o Porto de Santos é o 38º no mundo em capacidade de contêineres.
O advogado Mauro Augusto Perez foi o próximo a se apresentar. Ele abordou as condicionantes legais para os investimentos. Dentre outras coisas, falou sobre a influência da forma de regulamentação das leis para o desenvolvimento do país e a importância de ter um ambiente jurídico que dê segurança às empresas para que invistam no Brasil e em suas obras. Na foto à esquerda, o advogado Mauro Augusto Perez
Perez discorreu ainda sobre as PPPs (Parcerias Público Privadas) ao comentar o assunto levantado pela plateia. João Antonio del Nero, representante da empresa Figueiredo Ferraz, presente ao evento, afirmou que "no Brasil há boa engenharia, mas não conseguimos executar da melhor maneira devido às práticas de contratação. O governo contrata por menor preço e não por melhor prática, como deveria ser".
O advogado concordou com a colocação de del Nero em relação às práticas de contratação. Disse, no entanto, que as PPPs são extremamente importantes no mundo de hoje e que a legislação relacionada está evoluindo.
O encerramento das apresentações coube ao arquiteto João Sette Whitaker, que começou sua exposição dizendo que "a cidade é uma rede de infraestruturas". A partir daí, abordou diversos pontos da infraestrutura de uma cidade.
Segundo o arquiteto, o transporte é o mais importante deles, uma vez que a cidade vai crescendo e é preciso que as pessoas possam se locomover de um lugar a outro. E a qualidade do transporte influencia diretamente na qualidade de vida. "O deslocamento é calculado em tempo. Morar longe do trabalho, por exemplo, não é um problema desde que haja transporte de boa qualidade para que o tempo gasto no trajeto não exceda o razoável", explica. "O Brasil tem 25 milhões de pessoas esperando por infraestrutura. Por isso, este debate é de extrema relevância". Na foto à direita, o arquiteto Whitaker,
Ao final, houve um momento de debate entre plateia e palestrantes. Nesta oportunidade, Flávio Miguez, membro vitalício do Conselho Deliberativo do CBDB, apontou mais um grave gargalo na infraestrutura brasileira. "No Brasil, apenas 30% do esgoto é tratado, sendo 60% destes de maneira razoável".
"Foi um evento bastante interessante e enriquecedor, diferente do conceito usual de reuniões técnico-científicas a que estamos acostumados, com opiniões e visões de diversos setores que estão ligados à infraestrutura", declara Alessander Kormann, presidente da ABMS.
"A parceria ABGE, ABMS e CBDB já rendeu bons frutos. Agora precisamos unir forças a outras entidades", destaca Adalberto Aurélio Azevedo, presidente da ABGE. "E, em breve, promover novos debates já voltados a pontos mais específicos da engenharia", completa Flávio Miguez.
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