ABMS 75 anos: Fernando Schnaid fala sobre o desafio de preparar a engenharia para o futuro
10/07/2025
Os avanços da inteligência artificial, os efeitos das mudanças climáticas e a crescente demanda por soluções sustentáveis impõem novos desafios à engenharia geotécnica. Fernando Schnaid, ex-presidente da ABMS (2021-22), aborda esse cenário e relembra momentos da sua trajetória em entrevista em vídeo que integra a série de entrevistas com ex-presidentes da ABMS, produzida em comemoração aos 75 anos da Associação.
Schnaid vê a ABMS como um “elemento integrador”. Destaca a relevância que a entidade pode ter frente a transformações como a inteligência artificial e as mudanças climáticas, que têm impacto direto na engenharia.
“A IA é presente, não futuro”, sustenta Schnaid. “Algoritmos como o ChatGPT resolvem, em segundos, cálculos complexos como os de recalque em solos moles, com relatórios completos”. Ele observa que a evolução da IA é muito rápida. “Em breve, a inteligência artificial será capaz de formular estratégias de solução, o que representa uma oportunidade, mas também um risco, pois transforma o mercado de trabalho”, avalia.
Quanto às mudanças climáticas, Schnaid lembra que haverá demanda crescente para a modernização das infraestruturas urbanas e costeiras. “A macrodrenagem das cidades não comporta eventos extremos e as áreas costeiras enfrentam impactos severos. Isso exige engenharia pesada”, diz.
Schnaid: perfil acadêmico e profissional
Schnaid formou-se engenheiro civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1980, em um ambiente que aliava prática e ciência, sob influência de seu mentor, o ex-presidente da ABMS Jarbas Milititsky. “Convivendo com Jarbas, vi o potencial da geotecnia”, relembra.
Após concluir o mestrado na PUC-Rio, retornou à UFRGS como professor e, posteriormente, partiu para a Universidade Oxford, onde obteve o doutorado sob orientação de Peter Wroth, pioneiro da teoria do estado crítico. “Oxford me deu uma nova visão de mundo e ferramentas teóricas que nortearam minha carreira”, afirma.
Sua trajetória na associação começou pelas Comissões Técnicas. Por décadas, presidiu a Comissão Técnica de Investigação de Campo, contribuindo para o avanço dos métodos de caracterização geotécnica. Também atuou em comitês técnicos internacionais, como membro do board do Technical Committee on Site Characterization e, mais recentemente, no comitê de rejeitos de mineração, tema crítico para o Brasil.
Presidência na ABMS
Essa atuação internacional reforçou sua expertise e o preparou para liderar a ABMS durante a pandemia, entre 2021 e 2022. Sob sua presidência que se realizou o Cobramseg 2022, em São Paulo. O primeiro grande evento presencial pós-pandemia, marcado pelo reencontro da comunidade geotécnica. A gestão também promoveu a Cobrae em Pernambuco, além de eventos regionais como o Geojovem, Infogeo e Geossintéticos.
No campo da inovação, Schnaid implementou webinars internacionais com Índia e Reino Unido e lançou a “Academia ABMS”, com cursos voltados a gestores, construtores e projetistas, sem sobrepor-se aos programas acadêmicos. O curso piloto sobre barragens de mineração atraiu empresas do setor produtivo, como mineradoras e construtoras. “Conectamos os setores de mineração e petróleo à ABMS, fortalecendo a integração entre academia e indústria”, explica.
Com o objetivo de ampliar essa conexão, foi criada, durante sua gestão, a categoria de Associado Mantenedor. A entrada de empresas como a Vale fortaleceu o elo entre o setor educacional e o setor produtivo, que traz os desafios das grandes obras. Os associados mantenedores passaram a ter participação ativa na ABMS, contribuindo com expertise prática e o apoio a eventos e cursos.
Engenharia do futuro
Para Schnaid, as Comissões Técnicas da ABMS terão papel essencial na capacitação dos profissionais, especialmente os mais jovens, para integrar ferramentas como a IA e enfrentar os desafios climáticos com rigor técnico. “Talvez nunca tenhamos sido tão necessários. A ABMS tem um longo caminho pela frente.”
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