Segundo dia de discussões do Workshop sobre Desastres Geológico-Geotécnicos abordou as contribuições da geotecnia - ABMS
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Segundo dia de discussões do Workshop sobre Desastres Geológico-Geotécnicos abordou as contribuições da geotecnia

17/05/2022

O Workshop sobre Desastres Geológico-Geotécnicos: Ações e Soluções para Áreas de Risco”, organizado pelo Núcleo São Paulo da ABMS, foi lugar de encontro de especialistas em geologia, geotecnia, profissionais da Defesa Civil e representantes do mercado de engenharia. Esses profissionais debateram, nos dias 9 e 10/5, as soluções técnicas para áreas de risco e o cenário atual de desastres geológico-geotécnicos que impactam o país. O encontro aconteceu no Instituto de Engenharia de São Paulo e foi transmitido ao vivo pela internet.

O primeiro dia de discussões recebeu especialistas em geologia e geologia de engenharia. Eles abordaram os conceitos de área de risco, as tecnologias para gestão dessas áreas e apresentaram seus pontos de vista sobre a gestão dos desastres.

As empresas Geobrugg Brasil e PCP Engenharia – Geofísica e Monitoramento, patrocinadoras do evento junto com as empresas BELGO GeoTech, Huesker e Maccaferri, também apresentaram suas soluções de engenharia para obras em áreas de risco no dia 9/5. Leia aqui a reportagem completa. 

Segundo dia: O trabalho da Defesa Civil

O segundo dia de discussões do Workshop teve início com a palestra do Major da Polícia Militar André Luiz Hannickel, representando a Defesa Civil do Estado de São Paulo. Hannickel apresentou o tema “O papel da Defesa Civil na gestão dos riscos - desafios e ações para mitigar/minimizar as consequências de desastres”, em que comentou a atuação do órgão para preservar as vidas de pessoas que habitam áreas de risco no Estado e os desafios enfrentados nessa atuação.

Hannickel, que é subdiretor do Departamento de Proteção e Defesa Civil do Estado de São Paulo, afirmou que as relações com as entidades técnicas são tratadas pela Defesa Civil com seriedade. Isto porque as contribuições da comunidade técnica são valiosas na tomada de decisões importantes.

 “Para nós é muito cara essa aproximação com as entidades técnicas, como a ABMS, para o estudo das áreas de risco ocupadas nas cidades”, afirmou.

Assista  à entrevista concedida pelo Major à ABMS acessando aqui.

As contribuições da geotecniaNo segundo dia de discussões do Workshop, a engenheira civil Gisleine Coelho de Campos, pesquisadora e coordenadora no IPT, abordou os “Mecanismos de rupturas de solos e rochas e tipos de deslizamentos”. Em entrevista à ABMS, a engenheira comentou sobre o aumento de desastres em obras que possuem características geológico-geotécnicas. Esses desastres, muitas vezes, poderiam ser evitados se fossem realizadas as investigações devidas – técnicas que já são conhecidas e difundidas entre a comunidade, mas que em vários casos não chegam à obra.

A pesquisadora aponta algumas possíveis justificativas para a carência das investigações geológico-geotécnicas nessas situações e aborda como a comunidade técnica e sociedade podem contribuir para mudar esse cenário. Assista aqui.

 Em seguida, o engenheiro Emerson José Ananias, representante da empresa BELGO GeoTech, abordou “Casos de obras emergenciais em gabiões”. Ananias apresentou os principais produtos utilizados em obras emergenciais em que a empresa participou ativamente. Ele garante que há soluções técnicas disponíveis para a maioria das situações e que, portanto, os problemas enfrentados em áreas de risco estão mais ligados à gestão do que falta de engenharia. Assista aqui à entrevista concedida por Emerson Ananias à ABMS.

 “Soluções de Engenharia para estabilização de encostas e taludes” foi o tema discutido na sequência. Os engenheiros Paulo Afonso, Eugênio Pabst, Celso Orlando e Eduardo do Val abordaram o tema em quatro apresentações, que cobriram algumas das soluções mais utilizadas.

Paulo Afonso, que atualmente leciona na universidade Anhembi Morumbi, abriu a sequência de apresentações abordando os principais tipos de obras de estabilização de taludes. Elas são divididas em quatro grandes grupos: terraplanagem, obras de proteção superficial de taludes, obras de drenagem superficial e profunda e as obras de contenção. Afonso apresentou uma visão geral das características de cada obra e em que quais situações podem ser aplicadas.Os problemas técnicos que surgem em razão da ocupação irregular de encostas pela população também foi um assunto levantado pelo professor em sua apresentação. “Quando a população se instala nessas regiões, ela acaba alterando a geometria do talude e não se tem mais o nível de segurança em área”, exemplificou o professor.

Outros problemas observados são a retirada da proteção superficial do talude, a alteração do encaminhamento da água – o que é gravíssimo, segundo Afonso, pois isso pode permitir uma infiltração de água maior ou um escoamento mais depressa, sendo ambas as situações ruins para a segurança da área -, dentre outros problemas.

“Infelizmente, os problemas de estabilidade de encostas que surgem em razão da ocupação antrópica desordenada é uma questão muito grave e complexa porque envolve uma parte urbanística, o plano diretor da cidade, envolve um lado socioeconômico complicadíssimo”, afirmou Paulo Afonso. “Eu sempre falo nas minhas aulas: o morador não é o culpado de morar lá, ele está onde ele pode pagar”.

Em seguida, Celso Orlando se aprofundou na primeira das soluções de engenharia apresentadas por Paulo Afonso: terraplenagem com retaludamento e aterro controlado de estabilização de encostas. O engenheiro também abordou cortinas atirantadas. De acordo com Orlando, as palestras foram preparadas com foco nos profissionais que atuam nas Defesas Civis e que estariam assistindo ao Workshop. “Foi feito um resumo introdutório, depois mostrei casos de obras normais e só no final falei sobre um caso de obra um pouco mais complicado, que não é usual”, adiantou o engenheiro.

As próximas apresentações também seguiram o modelo iniciado por Paulo Afonso e Celso Orlando. Desta vez, o engenheiro Eugênio Pabst, diretor da Interact Engenharia, abordou solos reforçados - tanto em aterro quanto em corte, que é o solo grampeado. Pabst também apresentou a Norma Técnica ABNT NBR-11682, de 2009, que está em revisão. E faz um convite a todos para que participem das reuniões mensais promovidas pela Comissão, presidida por ele, responsável pela revisão da Norma.

“A Norma em questão trata de Estabilidade de Encostas e está sendo revista completamente em razão das reclamações de profissionais que atuam hoje em obras de estradas e que não conseguem entender as previsões da Norma”, explicou Pabst.

Ele esclarece que a Norma, elaborada em 2009, foi feita para tratar de taludes individuais. “Mas no caso de obras de estradas, quando se faz um projeto, você tem quilômetros e quilômetros de taludes e muito deles apresentam solos geologicamente parecidos. O que acontece, portanto, é que são feitos alguns ensaios e os resultados são aplicados em vários trechos. E o enfoque nos riscos acaba se perdendo, porque também não são obras realizadas dentro de área urbana”.

As reuniões acontecem todas as últimas quintas-feiras de cada mês. Para participar das discussões, basta que o interessado envie um e-mail para a ABMS (abms@abms.com.br) comunicando seu interesse. Mais orientações serão enviadas por e-mail.

O engenheiro Eduardo do Val, diretor da empresa Do Val Engenharia Consultiva, apresentou um caso de recuperação de uma obra de contenção de talude que, ocupado desordenadamente, caiu sobre a cidade. “Apesar das condições difíceis, conseguimos fazer um projeto e uma obra de recuperação bem sucedida usando recursos relativamente baratos”, contou.

Do Val lamentou que obras de recuperação de taludes que já receberam tratamento para contenção sejam tão comuns nas grandes áreas urbanas. “Normalmente a gente encontra essa situação nas grandes cidades em que a maior parte da população mora em habitações, em áreas urbanas não urbanizadas e simplesmente ocupadas desordenadamente, que levam a várias situações de risco de potencial instabilidade”, afirmou.

O maior desafio, segundo ele, é executar a obra deslocando o menor número de pessoas possível, de forma segura, e tendo em vista a perenização da obra. “Ou seja, fazer uma obra que fique lá pra vida toda. A gente tem que usar bastante a imaginação e a criatividade pra chegar à solução”, afirmou.

Em seguida, o engenheiro Mateus Cleto, da Huesker, apresentou casos de obra em que foram realizadas contenções em solo reforçado com geogrelhas, apontando as soluções da Huesker para esse tipo de situação e os resultados obtidos.

Já Petrucio Santos, engenheiro da Maccaferri, mostrou “Soluções geotécnicas integradas para áreas de risco” apontando casos bem sucedidos em que soluções de engenharia da empresa foram usadas em conjunto, de forma que foram obtidos os melhores resultados para aquelas situações.

Debates com o público

As mesas de debates reuniram os palestrantes de cada dia para discutir e tirar dúvidas do público que assistia ao evento presencialmente e de forma remota. Muitas das dúvidas técnicas respondidas pelos participantes foram enviadas por profissionais integrantes da Defesa Civil de várias regiões.

O presidente do Núcleo São Paulo afirma que a participação da Defesa Civil, assim como de especialistas de outras áreas, foi fundamental para o sucesso do evento. “A ideia era justamente abrir o diálogo com as pessoas que não fazem parte dessa associação, mas que em algum momento das suas carreiras ou das suas atividades profissionais, precisam do conhecimento técnico dos profissionais reunidos aqui”, disse Paulo Ferretti.

Yoshikazu Oshio, vice-presidente do Núcleo, acredita que o Workshop aconteceu no melhor momento para se discutir o tema. Segundo ele, fazer um evento tão aprofundado sobre o tema durante o período mais chuvoso do ano poderia, na verdade, prejudicar a atuação da Defesa Civil.

 “O Workshop, como aconteceu agora, foi um meio de divulgar a ABMS para essas equipes saberem que existe uma entidade e existem profissionais que podem contribuir de uma forma mais efetiva na preservação de vidas”.

“E precisamos cuidar das pessoas”, completou Ferretti.

“Essa não é só a missão da nossa associação, é a missão de todos os profissionais de geotecnia. Vamos aplicar o nosso conhecimento em prol da sociedade, em prol das pessoas, pois todas as engenharias cuidam das pessoas”, declarou.

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