Tecnologia digital e o futuro da geotecnia: as palestras de Kenichi Soga, António Correia e Luís Lamas
26/06/2025
O futuro da engenharia geotécnica já está sendo moldado pelas tecnologias digitais — e três dos maiores nomes internacionais da área estarão em São Paulo para mostrar como isso está acontecendo na prática. Nos dias 21 e 22 de julho de 2025, o EVENTO ABMS 75 ANOS trará ao público brasileiro as palestras dos professores Kenichi Soga (UC Berkeley), António Gomes Correia (Universidade do Minho) e Luís Lamas (LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Portugal). Suas apresentações prometem revelar como sensores, inteligência artificial, dados e novas frentes de pesquisa estão transformando radicalmente a forma como se projeta, monitora e se preserva a infraestrutura.
Geotecnia Inteligente e Adaptativa: a proposta de Kenichi Soga
Com a palestra intitulada “From Geo-monitor to Geo-adapt”, o professor Kenichi Soga vai mostrar como o uso de sensores distribuídos, como fibras ópticas e redes sem fio, aliados a ferramentas avançadas de análise de dados, está permitindo uma nova abordagem para o projeto e operação de obras geotécnicas.
Ao invés de apenas monitorar estruturas, como túneis e fundações profundas, a ideia é fazer com que essas obras “reajam” às mudanças do ambiente ao longo do tempo — adaptando-se de forma dinâmica para evitar falhas, melhorar o desempenho e aumentar sua vida útil. É a transição do geo-monitoramento para o geo-adaptativo, conceito que Soga tem desenvolvido em suas pesquisas no Berkeley Center for Smart Infrastructure.
No contexto brasileiro, essa visão se torna ainda mais relevante. Problemas como deslizamentos de encostas, envelhecimento de infraestrutura urbana e eventos climáticos extremos demandam soluções inovadoras. A tecnologia proposta por Soga pode ser um divisor de águas na forma como lidamos com esses desafios.
Kenichi Soga já apresentou a palestra “From Geo-monitor to Geo-adapt: Leveraging Distributed Sensing and Data Analytics for Performance-Based Design, Construction, and Maintenance” anteriormente, em um dos mais prestigiados fóruns da geotecnia mundial: a 63ª Rankine Lecture, organizada pela British Geotechnical Association (BGA), vinculada à Institution of Civil Engineers do Reino Unido.
A Rankine Lecture é considerada uma das mais importantes conferências internacionais da área de geotecnia. Ser convidado para proferi-la é uma distinção reservada apenas aos mais influentes pesquisadores e profissionais da engenharia geotécnica.
A apresentação de Soga nessa ocasião abordou exatamente o tema que ele trará ao evento ABMS 75 Anos: como a combinação de tecnologias de sensoriamento distribuído e análise de dados está revolucionando a forma de projetar, construir e operar infraestruturas geotécnicas. Ele usou estudos de caso reais — como túneis, oleodutos e fundações profundas — para demonstrar os benefícios dessa abordagem geo-adaptativa.
Ao reapresentar essa palestra no Brasil, Soga oferece ao público do ABMS 75 Anos a chance de acessar, em primeira mão, um conteúdo de altíssimo nível técnico e científico, que já foi reconhecido como referência mundial. Mais do que isso, o conteúdo é especialmente relevante para o contexto nacional, onde desafios geotécnicos exigem soluções mais inteligentes, eficientes e resilientes.
António Correia: Infraestruturas Inteligentes e Sustentáveis
O professor António Gomes Correia abordará na palestra “Advancing Transportation Geotechnics through Digital Technologies” como as tecnologias digitais estão revolucionando a geotecnia de transportes, promovendo ganhos sem precedentes em eficiência, sustentabilidade e segurança na concepção, construção e manutenção de infraestruturas.
Entre os destaques de sua apresentação estão:
Geomateriais autossensores, desenvolvidos com nanomateriais, que atuam como sensores embutidos, permitindo o monitoramento em tempo real de tensões, deformações e cargas;
Caracterização de rigidez de materiais granulares, usando elementos de flexão (bender elements) aplicados desde amostras de areia até agregados não ligados, com suporte de modelagem experimental e numérica;Sensoriamento remoto, com destaque para o uso de tecnologias como InSAR para avaliação da estabilidade de taludes em redes de transporte;
Modelos preditivos com inteligência artificial, que aumentam a precisão na mitigação de riscos de deslizamentos de terra;
Detecção de erosão em pontes ferroviárias, com uma abordagem indireta, baseada em dados de trens em movimento, integrando modelagem física, otimização e aprendizado de máquina;
Aplicação do BIM (Building Information Modeling) com o uso de RCDs (Requisitos de Construção Digital), como ferramenta essencial para práticas sustentáveis em engenharia de infraestrutura.
Essa palestra revela como a geotecnia de transportes está incorporando elementos da Indústria 4.0, criando sistemas mais resilientes e eficazes, aptos a responder a desafios complexos e dinâmicos.
Com mais de 600 publicações e uma carreira de mais de quatro décadas, Correia é uma das principais referências globais em seu campo. Sua palestra será uma oportunidade valiosa para engenheiros e gestores brasileiros entenderem como a transformação digital pode ser aplicada de forma prática e estratégica no setor de transportes.
Luís Lamas: Desafios e Perspectivas da Mecânica das Rochas
O engenheiro português Luís Lamas, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), completa o trio de palestrantes internacionais do evento com uma apresentação voltada à evolução da mecânica das rochas, tanto em sua trajetória histórica quanto em suas tendências futuras.
Baseada no artigo coassinado com José Vieira de Lemos, a palestra de Lamas propõe uma análise retrospectiva da disciplina, destacando como ela emergiu no pós-guerra como ramo específico dentro da engenharia geotécnica, e como vem se reinventando diante das novas exigências sociais, ambientais e tecnológicas.
O foco estará nos desafios que se impõem à pesquisa e às aplicações técnicas da mecânica das rochas no século XXI. Lamas identificará os domínios em que avanços mais significativos são esperados — como engenharia civil, mineração e petróleo — e apontará também novas áreas emergentes onde o conhecimento da mecânica das rochas poderá oferecer soluções sustentáveis, seguras e economicamente viáveis.
Um dos pontos altos da palestra será a discussão sobre como as tecnologias digitais, a inteligência artificial e os sistemas de comunicação em tempo real estão ampliando as possibilidades de monitoramento, modelagem e intervenção em obras complexas. Essa reflexão se conecta de maneira direta com as contribuições dos demais palestrantes, compondo um panorama abrangente e interconectado sobre o futuro da geotecnia.
Um Diálogo entre Visões que se Complementam
Embora cada palestrante aborde áreas distintas — infraestrutura subterrânea e transporte — ambos compartilham uma visão comum: o futuro da geotecnia passa pela digitalização. Tanto Soga quanto Correia demonstram que o uso inteligente de dados, sensores e algoritmos é o caminho para tornar obras mais seguras, econômicas e adaptáveis.
É um convite à engenharia do futuro: mais conectada, responsiva e orientada por desempenho.
Por que esse debate é importante para o Brasil?
O Brasil vive um momento crítico em termos de infraestrutura. Investimentos em tecnologia ainda são desiguais, mas os desafios são cada vez maiores: obras antigas, crescimento urbano acelerado, impactos das mudanças climáticas. As ideias que serão apresentadas por Soga e Correia trazem não apenas inspiração, mas soluções concretas para gestores públicos, empresas de engenharia e instituições de pesquisa.
O EVENTO ABMS 75 Anos será, portanto, muito mais do que uma celebração histórica. Será um ponto de encontro entre tradição e inovação — e uma oportunidade única de atualização profissional e troca de experiências com dois dos maiores especialistas do mundo.
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